Sobe um nervoso que chega a congelar. Não sabemos mais como continuar, e parece que tudo gira ao redor desse momento. As pernas tremem, os dedos tremem, a voz parece não encontrar forças para sair. Devo me arriscar?
De alguma forma, todo passo novo dentro desse universo que é a sexualidade humana demanda coragem de abrir-se ao risco. Esse nervoso todo parte de um estado que fomos ensinadas a nos colocar: a vergonha. Nos faz sentir erradas, tão perto do prazer mas tão distante de se deixar levar. São muitos os fatores que distanciam o sexo e a sexualidade do lugar de naturalidade que eles pertencem, são muitas regras sociais despejadas na nossa cabecinha. Estamos, sim, caminhando para uma conversa mais aberta sobre expressar o nosso desejo e sermos respeitadas por isso, mas ainda é um tabu se sentir confortável ao discutir sobre um prazer sexual que não seja masculino, heterossexual e normativo.
Somos ensinadas a olhar para o nosso corpo com certa repulsa do que há de mais humano nele. Aprendemos que o bonito é lisinho, é jovem, não tem pelos e nem marcas, aparenta ser sempre virgem. O medo que este olhar de repulsa do outro venha é tão grande que aprendemos a nos olhar com ele primeiro, e privar-nos do que nos faz ser nós mesmas.
Nesse contexto, faz todo sentido não se sentir confortável nessa dinâmica de troca sexual na qual a nudez é quase um pré-requisito. Não surpreende saber que sexo no escurinho faz tanto sucesso, e é realmente gostoso, mas também permite uma maior liberdade a quem (ainda) não se sente confortável no próprio corpo. Receber um olhar de desejo sincero e respeitoso faz toda a diferença, já que transar é sobre usar e abusar de todos os sentidos que estiverem ao seu alcance, e, com eles, estabelecer uma troca que seja positiva para todos os lados.
Sabemos que por trás dessas ideias malignas que rondam nossa cabeça está a temida pressão estética, certo? Quanto mais distantes do padrão estabelecido, mais a pressão estética ganha voz e presença, junto com a vergonha do nosso próprio corpo, vontades, desejos… O olhar do outro que julga nos atinge mais fortemente quando não temos conhecimento do que faz parte de nós e o que faz parte da imagem projetada de nós. Qual foi a última vez que você olhou para si no espelho e realmente se enxergou? Qual foi a última vez que você refletiu: o que te encanta sobre você mesma?
Talvez não seja tão intuitivo pensar que se conhecer, descobrir a si mesma sozinha, é uma importante chave (talvez a mais importante) para se sentir confortável na companhia de outras pessoas (sexualmente, em especial, mas não apenas). É essencial descobrir o seu corpo: novas sensações, livrar-se da culpa de se tocar, de se olhar, de se desejar.
A autonomia de ser dona da sua própria intimidade, da sua imagem nua, pra que quando você queira compartilhá-la com qualquer pessoa que seja, você esteja preparada. E que você esteja preparada também para lidar com as situações em que você não se sentirá preparada: quando tiver de falar não, quando estiver doendo, quando estiver desconfortável, quando estiver perto dos limites… é muito importante que você saiba se impor.
Ninguém está isenta de sentir vergonha, é um sentimento que todas temos, não importa em qual parte do espectro extrovertida/introvertida você esteja. Faz parte do exercício do autoconhecimento saber quando parar e entender o que você ainda tem de trabalhar sozinha (ou com paciência, ao lado de pessoas que ama) antes de expor-se a quem quer que seja.
O que estamos dizendo é: a vergonha vem quando percebemos ter pouco conhecimento sobre o nosso corpo, quando percebemos que não sabemos qual será nossa reação natural a certo estímulo, e quando esticamos a corda do que significa “estar confortável” para nós. Mas é gostoso abraçar o desconhecido, e isso só é possível se nos conhecermos o bastante para confiar em nossos instintos.
Deixar que o corpo vibre, deixar que o corpo grite, deixar o corpo guiar. Antes de tudo, sentir-se controlando a situação e acostumar-se com o que você já conhece é essencial, levando o que você já experimentou sozinha para as suas relações sexuais. Ainda anterior a isso, se a imagem ou a presença do seu corpo (nu) ainda lhe incomoda, ouse sentir-se mais à vontade em situações sem teor sexual. Tire um tempo para olhar-se nua no espelho. Já trocou de roupa na frente de alguma amiga? Sentiu-se à vontade só de calcinha, com os peitos de fora? Tomar banho juntas, sem ter que ser “preliminar” (se é que esta palavra é bem-vinda) ou pós sexo.
Que tal dar uma chance pra nudez do seu corpo, que te acolhe com tanto carinho? Abrir-se à possibilidade de se amar, e de receber o amor de quem te quer bem. Cada vez mais longe da vergonha, um passo mais perto da liberdade de sentir-se digna de prazer, um direito seu e de todas nós.
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